terça-feira, 4 de outubro de 2011

Estereotipagem

Você nunca foi tão você como no instante em que temeu não ser você. No momento de negligência em que se despiu de seus finos e fétidos trajes – que são seus, no entanto, não são você – e sua alma, da brecha gritou em seu minuto mais triunfal.
Em sua plena nudez do que julga ser você, sua alma cândida bradou, ela não é nada menos que você. Pode até não ter percebido, mas foi ali que vibrou uma tímida voz, a sua voz, você, instante em que foi voz e deixou de ser eco, eco do que outros gritaram. 
[...continua]
Anne Andrade
16 de dezembro de 2010


segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Arte de tecer

Viver é tecer, 
a vida é tecida, 
é tecido, 
é têxtil, 
é texto. 
Texto composto de frases,
de fases, 
que constituem orações e preces 
para que sejam bem escritos e bem vividos os períodos.

Anne Andrade

13 de dezembro de 2010


terça-feira, 16 de agosto de 2011

(In)ane

Assisada de minha inanidade imponente
Negligente do cais de minha essência
Num audaz idiotismo metódico impenitente
Escusadamente saneio minha demência                                      

Amiúde bifurcação de teses e anseios
Nutre o dilatado âmbito imaginativo
Decerto extravio em meus devaneios, enleios
Refestelo-me em renunciar o definitivo
Atônita ante o fortuito de meu solilóquio vejo
Deveras intencional o desprezo ao nexo altivo
E exígua idoneidade em findar o bosquejo

                                                           Anne Andrade

                                               

terça-feira, 26 de julho de 2011

Meu mundo


Cansei! Estou farta de fardo inútil, vil, vão
Não, não quero sofrer de antemão
Ah, meus olhos estão fartos de regar
 E eu, de deplorar

Quero mudar os ângulos, trocar as lentes
Ser mais viva, verdadeiramente
Ter mais alma, ser normal
Ser mais ser, etc. e tal

Heidegger me assegurou
Mais que eles, eu sou
Deus a mim sujeitou os outros entes
E meu mundo, hoje, eu faço diferente.

Anne Andrade
14 de janeiro de 2011

sábado, 23 de julho de 2011

Aos 18

Em mim há uma nascente
Que emana minha essência
De mim flui um rio intermitente
Que brada mesmo na dormência

Perenidade aspirando
E todo itinerário cursar
Sonha confluência num meandro
E desembocadura no mar, no Amar.


Anne Andrade
22 de julho de 2011

sexta-feira, 15 de julho de 2011

A Jovem Senil

Ah, como crescer dói
Na alma
E o tempo corroi
A calma

Desejo pujante
De solitude
E fastio ante
A amplitude

Muito se buscou
Sabedoria
Muito se perdeu
A alegria

Os sonhos foram
Desgastados
Ideais foram
Defasados

A perfeita moldura
Se parte
Enodoada a candura
Em escarlate

Medíocre consolo degenera
Em Pó
Muito não se espera
E só

Carga mui pesada
Sobre a espádua
Penosa a caminhada
Árdua

Ainda que recente se ponha
A existência                                                         
Já é senil e enfadonha           
A experiência

Anne Andrade
07 de janeiro de 2011

sexta-feira, 17 de junho de 2011

Observância do Tudo no Nada

Se eu fosse mais do que sou

Eu, certamente não seria eu

Seria o que recebo e o que dou

O que faltou e o que excedeu

Mas que eu seria

Se completa eu me tornasse?

O tudo me atropelaria?

E se o nada me devorasse?


Se de opostos eu me volvesse

Como o tudo e o nada.

Mas, poderia haver o nada

Quando tudo fosse?

Se o tudo não cabe o nada

Tudo não é tudo nem que tudo fosse


Mas o que é mesmo o nada?

Ele espera tradução?

Sua ideia é vaga?

O Tudo cabe em sua composição?


O nada é ausência

O nada é não ser

E o que ultrapassa a essência?

Passa a nada ser?


Então, se o que é muito

Pode deixar de ser

O nada seria o tudo

Que não tem onde caber?


O nada é tanto mundo

Que não se delineia

E por ser tanto tudo...

- É Nada, menina, não chateia!


Anne Andrade

08 de dezembro de 2010