O vazio, muitas vezes esvazia o vazio anterior, que de tão vazio, percebe-se que existe algo ali. Quantas vezes nos sufocamos na rotina, nas obrigações, no que é de fora, trabalho, convívio social, e não nos damos conta que é nesse “muito” que mora o vazio. Descobre-se o vazio do ser. “Quem sou? Não sei mais, só sei o que faço e o que devo fazer”. Muitos buscam insaciavelmente em coisas e em outras pessoas, preencher o vazio do ser que os perturba, tentativa inútil.
Muitas vezes até me aborreço, pois constantemente caio nessa solidão. Sem alguém ou algo por perto, deparo-me com o vazio, que me obriga que eu me transporte para dentro de mim, que eu me conheça e me reconheça, para que eu perceba o que sou, faço, quero, preciso, amo, e o que e quem verdadeiramente me importa; e assim, o vazio dá sentido e fôrma à minha vida, fôrma que dá forma à minha forma.
O vazio talvez seja a porta para o preenchimento da alma, a resposta às perguntas que se tem sobre si, e um copo com água num deserto repleto de miragens. A única e verdadeira água que mata a sede da essência, sacia, conforta e possui o mais nítido espelho da minh’alma, que me instiga a refletir, e reflete a mim, quem sou.
Anne Andrade
22 de setembro de 2010