segunda-feira, 14 de junho de 2010

Bolha de sabão


Imprescindível meu lar
Uma bolha de sabão
Delicado e peculiar
Nem sei ao certo se é real ou imaginação

Numa esfera sou limitada
Em êxtase, ao incomensurável
Vivo o tudo e tenho o nada
Permaneço frágil e intocável

Mas não me sinto só
Trago comigo a solidão amiga
Tenho o universo em meu derredor
Essa “nave” peregrina me abriga

Assim, vago na amplidão
Conduzida pelos ventos
De tudo vivo e de tudo tenho noção
Ainda que em pensamentos

Mas não, não chegue muito perto
Não podes me tocar
Tenho medo do mundo externo
Mortaliza-me tua atmosfera, teu ar

Gosto mesmo é daqui
Dessa bolhinha ambulante
O infinito é o que vivi
Mas posso ser sua por um instante

Perpetue-me em sua vida
Deseje-me por um momento
Mas que a distância seja mantida
Tu de fora e eu de dentro

Não pergunte o que há em mim
Nem qual minha direção
Apenas ame essa esfinge
Que reside numa bolha de sabão.
Anne Andrade
12 de junho de 2010

quarta-feira, 9 de junho de 2010

Enleio


“O pulso ainda pulsa”
O coração inda palpita
Mas os motivos não transparecem
Razões não existem
Causas me esquecem
Risos se calam
Juras emudecem.
Ilusões são deixadas
Em cada esquina da vida
Qual será o legado
Dessa existência sofrida?
Sonhos que se convertem a nada
Como é inútil cogitar
No real, desilusão
Na ilusão, o vazio, o eu a vagar
Flutuar, navegar, naufragar, afundar
Eu insisto em não viver
Dê-me motivos para assim não estar?
Envolta ao passado, futuro
Ou alinhada a qualquer direção dos ventos
Na busca de algo seguro
Afundo na areia movediça de meus pensamentos
Num refúgio estratégico
Fico na tangente
Fútil, fantasia incoerente
Transporto-me ao paralelo e vivo lá
O que não me é possível ser em outro lugar
Busco em canções a razão do meu riso
E em outros corações a alegria em estar vivo
E o tempo de mim se esquece
Com suas presas vorazes
Extermina-me lentamente
Imploro que devore breve
Reduza logo a mim e meu mundo a pó
Ninguém mais me conhecerá ou sequer me viu
A pequena que sonhava sempre
Só sonhou, nunca existiu.

Anne Andrade
04 de junho de 2010

terça-feira, 8 de junho de 2010

Anjo



Um prazer em conhecê-lo
Ou diria desprazer?
Guardo-te em profundo devaneio
Temo te ter e te perder

Inda não sei onde te guardar,
Pequeno é meu mundo
Inóspito o coração para te comportar
Importa que te guarde lá no fundo?

Mas me fale de você anjo
O que te traz até a mim?
És agente de pranto
Ou deste pranto traz o fim?

Melhor que nada diga
Deixe assim estar
Fique em silêncio
Quero te contemplar

Quero-te néscio
Do mais vulnerável que há
Modelar-te ao meu prazer
Inovar-te-ei á moda clichê

Depois dirás que tens boas novas
Que encontro proteção em você
Que me traz os tempos e as horas
Que em teus braços há de me envolver

Ainda te guardo em fantasia
Idealizo teu valor
Te sonho em demasia
Meu anjo, meu amor.
Anne Andrade
04 de junho de 2010