sábado, 30 de outubro de 2010

Profano


Meu amor
Profano amor
Grande amor
Maldito amor
Colorido e sem cor

Que me rebaixa à loucura
Que me tira de tempo
Que me leva pra lua
E me traz com o vento

Numa manha sorrateira
Como quem nada quer
Me envolve por inteira
Depois foge, dá no pé

Mas eis que retorna o caminho
Diz que tem um coração em pedaços
Me implorando carinho
Se atira em meus braços

A metáfora arquiva
O que ele diz pra mim
Mas logo se esquiva
E retifica que não é bem assim

Derrama minhas lágrimas
Depois me sopra os cabelos
Me aborrece com lástimas
E me arranca sorrisos inteiros

Odeio por  instantes
Mas só sei  amar
Então, amo mais que antes
E me entrego sem reservar

Meu profano amor
Antes não tivesse sido
Antes não tivesse tido
Antes não tivesse ido
Antes não tivesse lido

Anne Andrade



terça-feira, 19 de outubro de 2010

Fênix

É inútil pôr fogo nas cinzas
Antes fosse carvão
Antes fosse paixão

Não se colore tardes cinzas
Quando só se tem essa cor
Quando há prazer na dor

Não se revive
O que pereceu
Não se revive
O que já viveu

[...tempo]

Ora, deixa disso
Pessimismo em pessoa
Pois de tempo é preciso
Para a coisa ficar boa

Quero um sorriso
Não chores á toa
O tempo tece asas
Agora, voa

Doeu
Mas pari o belo e impecável
Custou tempo
Custou vento
Mas ergui um monte inabalável
E mais ainda
Custou cinza
E reviveu o inimaginável



Anne Andrade
19 de outubro de 2010


segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Estrela (de)cadente

Hei, por que olha para os céus? Por que confia teus sonhos a uma estrela cadente? Ela não te escuta, não te importa. Se essa estrela não pode manter a si, fixa no firmamento, poderia, ela, assegurar os desejos teus? Não vê?! Ela está caindo, morrendo, o que você pede para a morte? Ela se despede ardendo em chamas, trágico! Não te ouvirá, nem tampouco te atenderá, só perece e será fatalmente desintegrada. Se cair na terra, será inútil como uma pedra, e se cair no mar?! Esqueça, ela não sabe nadar, não te fará nenhum favor, nem brilho terá mais, não a espere, ela não vem, não peça, ela não te atende, não acende, pois morre, apaga. Eis que a estrela desce, e não sobe, vai, e não vem, cai, e não levanta, não acende nem ascende. Cadente não é ascendente, é (de)cadente.
Anne Andrade
18 de outubro de 2010 

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

A solidão

Ocupa o espaço do amor
E se alastra, alarma
Um vácuo devorador
Buraco negro da alma

Então se expande
Alaga o coração primeiro
E fica grande
E fica inteiro

Um mal corrosivo
Que porta infindável dor
E só é inativo
Quando se tem um grande amor.

Anne Andrade
02 de outubro de 2010

Aula de Função Composta


Ah! Que vontade de descansar minhas pálpebras sobre meus cílios inferiores. Queria uma fuga ao inconsciente, deixar aflorar na mente o que só Freud explica. Esquecer da equação composta e emudecer o professor Ivan, descansar meu consciente, desligar minha lógica. Nem travesseiro de plumas eu exijo, só onde reclinar a cabeça, e sossegar meu corpo e mente, que andam fartos do muito fazer, do muito pensar; na tentativa de comportar o que há acima dos céus, abaixo da terra, e a vã filosofia em pouco mais de um quilo de massa encefálica. Não consigo nem quero entender o “f” de “x” usando o “g”, que se atira do pincel, em direção ao quadro branco á frente; o “g” é tão obscuro, indecifrável, tão incógnita, corre e dança pelo quadro, e me diz: “fecha teus olhos”. Que a matemática mate essa temática e me mate por alguns minutos. E que em meus sonhos ela seja bem vinda, quiçá, explicada pelos vanguardistas. Mas num chacoalho, a realidade me assusta e grita em meus ouvidos: “Deixe de ser mole, vadia, e volte a prestar atenção na aula!”.

Anne Andrade
01 de outubro de 2010