sábado, 27 de novembro de 2010

Passageiro




De coisa passageira
Minha vida se edifica
Junto pedaços, e me faço inteira
Do eco que ainda fica


O passageiro, muitas vezes me assusta,  pois cada segundo é o último dele mesmo, ainda  que não tenha acontecido o primeiro. E, até mesmo os pares são ímpares, uma vez que deles não se acham iguais. Controverso a “não há nada novo sob o sol”, “nada do que foi será de novo do jeito que já foi um dia”. E o passageiro sempre passa num passo ligeiro, deixando um eco vagaroso e singular, numa fugacidade eterna.


Anne Andrade


segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Apocalipse


Oh, não temas o porvir
Disse quem não tem idade
Aquele que é, era, e há de vir
Que detém toda a autoridade

Aquele de cinto de ouro
Pés semelhantes a bronze polido
De olhos como chama de fogo
E que fala a quem tem ouvido

Aquele que abre o livro
E desata cada selo
O leão da tribo
Do trono, o cordeiro

Nos selos, cavalos
Nas trombetas, trovão
Na promessa, não deixá-los
Na promessa, galardão

Uma mulher vestida de sol
Perseguida pelo dragão
Grávida, grita, só
E dá à luz o filho varão

Sete flagelos anunciados
Taças de ira derramadas
Eufrates, secado
E a Babilônia, derrocada

A besta surge do mar
Dum mar de gente
E um lago se torna seu lar
Lago de fogo e enxofre ardente

Tive medo e chorei
O cordeiro me tomou nos braços
Me disse que era Rei
E assegurava nossos laços

Me prometeu uma cidade
De nova Terra e novo Céu 
Me ofereceu a eternidade
E me estendeu sua destra fiel

Eu li a última página
Está tudo bem
Não haverá mais lágrima
Termina em Amém!

Anne Andrade
20 de novembro de 2010

sábado, 30 de outubro de 2010

Profano


Meu amor
Profano amor
Grande amor
Maldito amor
Colorido e sem cor

Que me rebaixa à loucura
Que me tira de tempo
Que me leva pra lua
E me traz com o vento

Numa manha sorrateira
Como quem nada quer
Me envolve por inteira
Depois foge, dá no pé

Mas eis que retorna o caminho
Diz que tem um coração em pedaços
Me implorando carinho
Se atira em meus braços

A metáfora arquiva
O que ele diz pra mim
Mas logo se esquiva
E retifica que não é bem assim

Derrama minhas lágrimas
Depois me sopra os cabelos
Me aborrece com lástimas
E me arranca sorrisos inteiros

Odeio por  instantes
Mas só sei  amar
Então, amo mais que antes
E me entrego sem reservar

Meu profano amor
Antes não tivesse sido
Antes não tivesse tido
Antes não tivesse ido
Antes não tivesse lido

Anne Andrade



terça-feira, 19 de outubro de 2010

Fênix

É inútil pôr fogo nas cinzas
Antes fosse carvão
Antes fosse paixão

Não se colore tardes cinzas
Quando só se tem essa cor
Quando há prazer na dor

Não se revive
O que pereceu
Não se revive
O que já viveu

[...tempo]

Ora, deixa disso
Pessimismo em pessoa
Pois de tempo é preciso
Para a coisa ficar boa

Quero um sorriso
Não chores á toa
O tempo tece asas
Agora, voa

Doeu
Mas pari o belo e impecável
Custou tempo
Custou vento
Mas ergui um monte inabalável
E mais ainda
Custou cinza
E reviveu o inimaginável



Anne Andrade
19 de outubro de 2010


segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Estrela (de)cadente

Hei, por que olha para os céus? Por que confia teus sonhos a uma estrela cadente? Ela não te escuta, não te importa. Se essa estrela não pode manter a si, fixa no firmamento, poderia, ela, assegurar os desejos teus? Não vê?! Ela está caindo, morrendo, o que você pede para a morte? Ela se despede ardendo em chamas, trágico! Não te ouvirá, nem tampouco te atenderá, só perece e será fatalmente desintegrada. Se cair na terra, será inútil como uma pedra, e se cair no mar?! Esqueça, ela não sabe nadar, não te fará nenhum favor, nem brilho terá mais, não a espere, ela não vem, não peça, ela não te atende, não acende, pois morre, apaga. Eis que a estrela desce, e não sobe, vai, e não vem, cai, e não levanta, não acende nem ascende. Cadente não é ascendente, é (de)cadente.
Anne Andrade
18 de outubro de 2010 

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

A solidão

Ocupa o espaço do amor
E se alastra, alarma
Um vácuo devorador
Buraco negro da alma

Então se expande
Alaga o coração primeiro
E fica grande
E fica inteiro

Um mal corrosivo
Que porta infindável dor
E só é inativo
Quando se tem um grande amor.

Anne Andrade
02 de outubro de 2010

Aula de Função Composta


Ah! Que vontade de descansar minhas pálpebras sobre meus cílios inferiores. Queria uma fuga ao inconsciente, deixar aflorar na mente o que só Freud explica. Esquecer da equação composta e emudecer o professor Ivan, descansar meu consciente, desligar minha lógica. Nem travesseiro de plumas eu exijo, só onde reclinar a cabeça, e sossegar meu corpo e mente, que andam fartos do muito fazer, do muito pensar; na tentativa de comportar o que há acima dos céus, abaixo da terra, e a vã filosofia em pouco mais de um quilo de massa encefálica. Não consigo nem quero entender o “f” de “x” usando o “g”, que se atira do pincel, em direção ao quadro branco á frente; o “g” é tão obscuro, indecifrável, tão incógnita, corre e dança pelo quadro, e me diz: “fecha teus olhos”. Que a matemática mate essa temática e me mate por alguns minutos. E que em meus sonhos ela seja bem vinda, quiçá, explicada pelos vanguardistas. Mas num chacoalho, a realidade me assusta e grita em meus ouvidos: “Deixe de ser mole, vadia, e volte a prestar atenção na aula!”.

Anne Andrade
01 de outubro de 2010

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Flautim de soluços



Ela regava em nota...
Feito cachoeira que brota
Desconsoladamente feito criança sem colo
Desesperadamente, solitariamente
Sem consolo, porto ou abrigo
Sem carinho, abraço ou amigo
Soluços ecoavam como flautim
Tuim, tuim...
“Há um punhal em mim”.


Anne Andrade
05 de agosto de 2010

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

O sentido do vazio

O vazio, muitas vezes esvazia o vazio anterior, que de tão vazio, percebe-se que existe algo ali. Quantas vezes nos sufocamos na rotina, nas obrigações, no que é de fora, trabalho, convívio social, e não nos damos conta que é nesse “muito” que mora o vazio. Descobre-se o vazio do ser. “Quem sou? Não sei mais, só sei o que faço e o que devo fazer”. Muitos buscam insaciavelmente em coisas e em outras pessoas, preencher o vazio do ser que os perturba, tentativa inútil.
Muitas vezes até me aborreço, pois constantemente caio nessa solidão. Sem alguém ou algo por perto, deparo-me com o vazio, que me obriga que eu me transporte para dentro de mim, que eu me conheça e me reconheça, para que eu perceba o que sou, faço, quero, preciso, amo, e o que e quem verdadeiramente me importa; e assim, o vazio dá sentido e fôrma à minha vida, fôrma que dá forma à minha forma.
O vazio talvez seja a porta para o preenchimento da alma, a resposta às perguntas que se tem sobre si, e um copo com água num deserto repleto de miragens. A única e verdadeira água que mata a sede da essência, sacia, conforta e  possui o mais nítido espelho da minh’alma, que me instiga a refletir, e reflete a mim, quem sou.

Anne Andrade
22 de setembro de 2010

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Cadê tua mãe, Criança?

Em que sustenta teus pés?
O que te dá prazer?
Que dá sentido ao que és
Que te impulsiona a viver

Qual tua premissa maior?
Onde guarda a fé tua?
Que fazes para não andar só?
Andas de ré, mi, fa, sol ou lua?

Por quem chamas
Quando a tristeza te invade?
A que tu amas?
E quem te ama de verdade?

Onde teu barco se ancora?
Qual é teu porto seguro?
O que te segura agora?
O que te desce do muro?
Em quem deposita teu futuro?

Onde confia tua esperança?
Numa garrafa, aliança?
Cadê tua mãe, criança?

Anne Andrade
18 de setembro de 2010

terça-feira, 7 de setembro de 2010

O Beijo

Um punhal no peito te atravessava
Segurava fortemente minha mão
E um beijo me implorava
Aquele que mil vezes eu dissera não

Cumpri teu último desejo
Enquanto a morte te conduzia
Meus lábios mornos selavam um beijo
Na tua boca pálida e fria

Beijo que feriu minha paz
Revelando-me, por fim
Que era teu, e de ninguém mais
Todo o amor que havia em mim.

Anne Andrade
06 de setembro de 2010

Astro Rei



Brilhantíssimo Sol
Astro rei que me alimenta
Da aurora ao arrebol
Ilumina e esquenta

Hoje eu vi
Que feliz estava
E tua alegria senti
Na hipoderme da alma

Teu brilho clareou
A escuridão que havia
E teu calor me abraçou
Convertendo noite em dia

Notei num instante
Que para mim sorriu
Estava tão radiante
Naquele céu de anil

Teus raios hei de tragar
E tua luz, traduzir
O que em teus fótons há?
E nesse dom de reluzir?

Despeço-me de ti
Num adeus crepuscular
Mas já te espero aqui
Sentada à beira-mar.

Anne Andrade
05 de setembro de 2010

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Pedrinha

Tinha uma pedra no meio do caminho
Pedra rara de muito valor
Tão invocada quanto um bichinho
Tão patética quanto um ator

Amei aquela pedrinha
E para mim roubei
Chamei-a de minha
E em meu bolso guardei

Anne Andrade
03 de setembro de 2010

Navegamos

Somos barcos, caravelas, canoas, navios, que cruzam os oceanos da vida em busca de aventura, conhecimento, experiência, superações, alegrias. Enfrentando tempestades, descobrindo os segredos do temido mar, que hora está calmo, bom pra navegar. Outras horas, agitado, furioso, e naufraga os mais fracos. Podemos navegar por rotas conhecidas, ou traçar nossa própria rota. Os destemidos se imortalizam na história. Aventureiros cruzam os mares e contornam os ventos, os que tem medo, que tentam navegar em linha reta, são arrastados pelos ventos pra lugares distantes, instigados a vencer o medo e provar de aventuras e desventuras, a aprender a navegar (viver). Não importa qual rota seguimos, importa que estamos navegando "navegar é preciso", e nesse caso, viver é navegar. Seguimos pelos oceanos, e almejamos um cais, fim de rota, terra firme, tempo e motivo de se orgulhar pela grande navegação. Mal sabemos que depois no cais, o fim da rota é o fim da existência, aí então deixamos nosso legado e nossa história.

Anne Andrade

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Claro sobre trilhos


Faz isso não
Poupe tua vida
Sonhe de pé no chão
Antes chegada que partida

Não se atire
Isso aqui é precipício
Mas não se retire
Da sina do início

Não se jogue também
Aí trilhos são
Eis que vem o trem
Pode ver aquele clarão?

Aquele claro não é liberdade
Nem tampouco salvação
Vem mostrar-te a verdade
Trazer-te a decepção
 

O claro vai fazer
Teus sonhos caírem por terra
E tua alma há de ser
Arruinada sem reserva

O claro vai te mostrar
Quão miserável que és
E há de derrubar
O que sustenta teus pés

O claro vai revelar
Que tu não tens caminho
Nunca tiveras lar
E sempre fora sozinho

O claro dará fim
A esses teus sonhos mesquinhos
E desse teu jardim
Mostrar-te-a espinhos

Esse mundinho que você se esconde
Será esmiuçado e convertido a pó
E o vento o soprará para longe
Sem pesar, piedade ou dó.

Fala pra mim
Está vendo aquele clarão?
Ele traz consigo teu fim
Em seu último vagão


Anne Andrade
30 de agosto de 2010

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Brecha

Há uma brecha, uma falta ingrata    
Um vazio, uma carência, ausência
Uma vaga amarga.

Pulso em teu pulso, podes me sentir?
Corro em tuas veias, podes me notar?
Tens parte de mim em ti
Parte que arrancastes e levastes pra lá
                                           
                                                             Anne Andrade 

Fora de cena

Não faça isso com meu dia
Não me faça chorar
Não devore minha alegria
Lágrimas podem virar mar

Não me olhe desse jeito
Sua contundência me fura
Atravessa meu peito
E me afoga em amargura
 [...]
Não, não sinta dó
Deixe a dor ser bem sofrida
Da garganta tiro o nó
Do peito, a ferida
Dos olhos, o oceano
E da certeza, o engano

Não carece de plateia
Para assistir a minha dor,
Para viver minha miséria
Não preciso ser ator.

                                Anne Andrade

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Receita viva



A arte de viver se assemelha a uma receita, só que de algo nunca feito antes. Irracional tentar escrever essa receita sem ter ideia prática. Mas existem os que querem escrever primeiro tal receita num papel, supor ingredientes, quantidades e modo de preparo; isso acontece de forma planejada, e ao mesmo tempo fria, seca, calculada, pensada, sistematizada e baseada em cálculos vãos de mentes ingênuas que ainda não vivem, mas, projetam. Isso pode levar dias, anos... Eis que é chegado o grande momento de "por a mão na massa", viver, e tentar fazer tal receita. Mas quando se vive, tudo é diferente, há casos e acasos diferentes, circunstâncias não planejadas, imprevistos, sentimentos, coisas inexplicáveis, fermentos inesperados, proporções não estipuladas, carência não pensada, por que a vida é verde, a vida é viva, e não cabe num papel, e não obedece a uma receita pré-estabelecida. Então, aquele que vive, rasga a teoria da receita, e aprende que os ingredientes são escolhidos dia após dia e uma nova receita vai sendo feita, moldada pelas circunstâncias. E que o resultado final, é surpresa, que só descobrimos ao final do preparo.
Anne Andrade

sábado, 7 de agosto de 2010

Fingidor que finge a dor

Já que poeta é fingidor, continuemos, pois, a fingir, deixa estar, que se não é, passa a ser enquanto escrevemos, como observou Lispector. Deixe que eu mostre uma dor não necessariamente minha, fingir dor que dói sem doer. Que mal tem em dizer o que ainda não sente? Antes assim, que tornar a pele transparente, fazer do corpo vitrine, expor as chagas da carne, e ficar suscetível a todo e qualquer julgo escarnecedor. Deixe que eu faço uma dor bonita. Antes assim, que ser tomado pela emoção do que sentimos, mas não sabemos bem, e se expor ao ridículo na tentativa vã de querer dizer norte e, por fim, falar sul. Poeta escreve o que pensa, o que imagina, o que está na cabeça, e não no coração. O que sente não está nos versos, está entre os versos, sobre os versos, sob os versos, metaforizado em cada palavra, oculto nas rimas, camuflado na forma, não verás explícito nos versos os sentimentos de um poeta, pois não cabem nos versos, estão nos versos, sem que versos sejam. Nos versos, encontrarás o fingimento da dor do fingidor. 
                                                                        Anne Andrade
                                                                                                                                                                                                                            

sexta-feira, 30 de julho de 2010

Parcialidade evolutiva



O ser humano tem, em sua essência, o poder de evoluir, e descobrir os mistérios do universo. A capacidade de adaptar o mundo em sua volta ao seu modo, ter domínio sobre seu espaço, estabelecer relações sociais, amar, criar, questionar circunstancias e raciocinar. O que faz do homem, superior aos demais seres, como afirma a formulação heideggeriana. Em meio a um constante e avançado desenvolvimento, o homem passa a ter comportamentos arcaicos no convívio social, uma perda de valores, seria isso uma involução?
Podendo limitar o conceito de homem ao gênero masculino, é possível a percepção de uma visão machista impregnada na sociedade, antes fosse isso só. Em contrapartida ao conhecimento, avanços científicos e descobertas; conceitos antigos não evoluíram, princípios foram deixados. Diante da robotização, houve o esquecimento de progredir também a humanização. Rude e ignorante socialmente falando, torna-se uma “máquina” de comportamentos animais.
Numa incessante busca cientifica “racional”, a razão humana é deixada de lado. O homem perde a essência sentimental. Congela-se na concepção que o “macho” domina, age por instintos, trai, agride fisicamente o próximo (a isso deveriam recorrer apenas os incapacitados de diálogo), oprime os demais. O que o faz descer da condição de dominador civilizado e se torna equiparável á pobreza de mundo dos demais seres irracionais. Num conceito limitadamente naturalista, o homem ainda se comporta como um animal, dos não capazes de racionalizar e controlar supostos “instintos”. Um pseudo-sábio que perde a noção do que seria amar e respeitar o próximo.
Olvidou-se que a evolução não basta ser tecnológica, é preciso que seja também psicologia e emocional. Que o sentimento das conquistas não cegue a necessidade da civilização e das boas relações no meio vivido. O homem deve lembrar que antes de dominador e formador de mundo, ele é humano, antes do animal, racional, antes de só, dependente do meio, e , que antes que se pense, que haja sentimentos.
Anne Andrade
29 de julho de 2009

quinta-feira, 29 de julho de 2010

Devaneio tolo



Ah, se a vida me desse
O que peço em prece
Ah, quem soubesse
Que quando a gente cresce
A fantasia desaparece
Aquele sonho, a gente esquece
O sol escurece
A antiga alegria padece
O gozo esmaece
Numa descida que só desce
Pois tudo o que cresce e amadurece
Também envelhece e apodrece
Morre, perece

Ah, se eu pudesse
O que peço em prece
Peço que não cresça
Que fantasia permaneça
Que o sonho aconteça
Que meu sol não escureça
Que a alegria não padeça
Que o gozo não esmaeça
Que essa subida jamais desça
Que eu não amadureça
Para que depois envelheça e pereça
Que eu seja eternamente flor
E a juventude sempre exalada
Que meu sol não venha se pôr
E pequena seja eu perpetuada.
Anne Andrade

quarta-feira, 21 de julho de 2010

Pensar

Quando pensares pensar num pensante que pensava em pensar pensamentos jamais pensados, pensando que pensamentos impensáveis pudessem ser pensados, pense em mim. Sou aquela que pensa sem pensar em pensar o que não é de se pensar, e, pensando em o pensar, já penso no pensamento que não há.
Anne Andrade

terça-feira, 20 de julho de 2010

Aos 17

Ah! meus 17, iniciam-se aqui
Menos um para viver
Mais um que já vivi
Dias... do tempo, á mercê


Será que agora eu levanto?
Tomo um rumo nesse mar?
Já tá ou passou do ponto?
Será que agora dá pra voar?


E meu coração? Esse mero pulsador
Guardado em lata de conservar
Teria, alguém, um abridor?
Vê se ensina o ignorante a amar


E meus sonhos?
Não quero, nem posso deixá-los
Passei todos esses anos
Para construí-los e aperfeiçoá-los


E minha criança?
Ah... essa vai comigo
Não a quero só como lembrança
Mas, quero a pureza servindo de abrigo


E Meu Deus?
Imploro que seu amor por mim não cesse
És o topo dos sonhos meus
E de minha alma, o alicerce


Sou dessa rota, navegador
Do desejo, ser feliz
De minha história, escritor
E da vida, aprendiz


...continua aos 18.


Anne Andrade
18 de julho de 2010

quinta-feira, 15 de julho de 2010

Sou


Se tento me definir

Entro em contradição

Sou o meio termo do sentir

Sustento-me na oposição


Não tenho certeza do que sinto

Acho até que minto


Atropelam-me todos os sentimentos

Escrevo e derramo minha alma

Aglutinados estão alegrias e tormentos

E frustradas as tentativas de restituir a fleuma


Apostando aliviar o coração

Á mais intensa tempestade sou acometida

Ventos levam pra mais longe a explicação

Para essa existência conturbada e estarrecida


O infinito habita em meu ser

O vazio preenche minha alma

Sou o não querer do bem querer

O veneno do caos, êxtase da calma


A metamorfose ambulante e a estagnada

Do riso, tristeza e alegria

A emoção racionalizada

O sol da noite, a lua do dia


Sou do doce, o amargo

Do amargo, o azedo

Do azedo, o salgado

O paladar do dedo


Nas águas, uma chama acesa

Nas chamas, o gelo a arder

Nos céus, a liberdade presa

Na terra, o pó que não se vê


Sou a diagonal do horizonte

O frio que aquece

O raro que tem de monte

O imortal que perece


Sou ângulo maior que 360°

O produto de todos os algarismos de 'pi'

O 73 do 50

O que soma ao dividir


Relógio anti horário é o meu

Estou á zero negativo do equador

A oeste o meu sol nasceu

E á norte ele irá se pôr


Sou a hipérbole em eufemismo afogada

A denotativa conotação

Gramática de regras ausentadas

O termo implícito da oração


O fóton que não foi tragado

O cloroplasto animal

A proteína sem aminoácido

O recessivo que é normal


Não importa se sentido eu faço

Importa que, sou

Nem qual o caminho que traço

Importa que, vou

Anne Andrade