sábado, 7 de agosto de 2010

Fingidor que finge a dor

Já que poeta é fingidor, continuemos, pois, a fingir, deixa estar, que se não é, passa a ser enquanto escrevemos, como observou Lispector. Deixe que eu mostre uma dor não necessariamente minha, fingir dor que dói sem doer. Que mal tem em dizer o que ainda não sente? Antes assim, que tornar a pele transparente, fazer do corpo vitrine, expor as chagas da carne, e ficar suscetível a todo e qualquer julgo escarnecedor. Deixe que eu faço uma dor bonita. Antes assim, que ser tomado pela emoção do que sentimos, mas não sabemos bem, e se expor ao ridículo na tentativa vã de querer dizer norte e, por fim, falar sul. Poeta escreve o que pensa, o que imagina, o que está na cabeça, e não no coração. O que sente não está nos versos, está entre os versos, sobre os versos, sob os versos, metaforizado em cada palavra, oculto nas rimas, camuflado na forma, não verás explícito nos versos os sentimentos de um poeta, pois não cabem nos versos, estão nos versos, sem que versos sejam. Nos versos, encontrarás o fingimento da dor do fingidor. 
                                                                        Anne Andrade
                                                                                                                                                                                                                            

4 comentários:

  1. E realmente as pessoas tem medo de falar oq estão sentindo. Vai saber oq a outra vai achar ou como vai reagir.


    Esse titulo me lembrou uma pessoa instataneamente.

    Bju

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  2. Definitivamente, indubitavelmente, utilizando de uma total redundância, todavia, de modo a enfatizar o posteriormente dito:

    Tu és meu ídolo! ;D

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  3. alguém já disse que "quem finge que não vê, não vê que finge". procede

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